Tic-tac, tic-tac, tic-tac…
Eis que o tempo nos impõe reflexões incessantes…
Mina de ouro para os artistas, foi entregue pelo próprio deus Cronos à mente inquieta e investigativa da artista Valéria Pena-Costa.
Caminhar por entre os labirintos dos cômodos de sua casa/ateliê foi como invadir seu mundo inconsciente, repleto de objetos, animais taxidermizados, beleza e muita, muita inquietude.
Minha querida amiga Chris, lembrou-me, durante a visita, que o tempo fora assenhorado pelo grande Quintana repetidas vezes e eu a recordar como trabalhou Dali com o objeto síntese (relógio), em formas derretidas graças à conhecida abordagem surreal.
Em Valéria, no entanto, o tempo parece fugir às regras estanques ou à caixa dos movimentos artísticos “engessados”. Dialoga com o período ancestral de sua infância na qual os sonhos têm cores, formas e texturas diferenciadas.
Em certo momento até pude escutar, com a mente, o coelho de Alice em sua famosa queixa “… é tarde, muito tarde, estou atrasado…”.
Incrível como a arte de Valéria nos transporta através do tempo. Seus objetos, que também são nossos, traduzem algo de místico, etéreo, passível de muitas divagações e algo de prático, tangível, cruelmente real.
É a arte, por meio de sua artífice, a aproximar mundos diferentes nos quais o tempo ideal e o tempo real transitam, confortáveis, no limbo da nossa imaginação.