Relembrando o artigo de 2021, quando a obra de Djanira havia sido removida do Palácio do Planalto.
Deixem Djanira falar!
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Em 2019 tive o prazer de escrever um artigo, no blog “Sobre arte e arrepios”, a respeito do trabalho da artista Djanira da Motta e Silva.
Vivamente impressionada com suas telas monumentais, suas cores e temáticas, direcionei meus apontamentos, à época, para o mundo do trabalho, tendo como referência a série de obras feitas nos anos de 1970, inspiradas nas visitas da artista às jazidas de minério de ferro (MG) e às carvoarias (SC).
Mesmo antes da queda da barragem em Mariana e do desastre em Brumadinho, Djanira demonstrava sensibilidade e preocupação com assuntos pertinentes aos temas ambientais.
Mas o legado de Djanira é certamente bem maior. Tem clara relação com nossa cultura ancestral, nossos folguedos e nossos hábitos construídos ao longo de centenas de anos.
Desprezar uma obra como “Os orixás”, além de um profundo desrespeito para com nossa identidade plural e democrática, é, também, sintoma de uma parcela doente da sociedade que se afoga agarrada à boia de seus valores mesquinhos.
Longe de ser um diálogo a respeito de gosto, conhecimento ou erudição aplicada às obras de arte. Essa é uma outra seara.
Trata-se de confundir o que é público com o que é pessoal e particular; escancarar preconceitos e submeter-nos a mais um vexame coletivo.
Se há realmente a necessidade de que a expressão ocorra por intermédio da arte, por favor, deixem Djanira falar.